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A Polícia Civil de Bauru divulgou nesta segunda-feira (26), novas informações sobre o caso de Claudia Regina Rocha Lobo, que era secretária-executiva da Apae, e estava desaparecida desde 6 de agosto.
As informações foram apresentadas em uma coletiva de imprensa realizada na sede da Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic), de Bauru, e apontam que Cláudia teria sido morta com um tiro disparado da arma de Roberto Franceschetti Filho, que até então era o presidente da Apae.
O corpo da vítima foi queimado por, pelo menos, quatro dias em uma área rural. O mesmo local foi usado por Roberto e por um funcionário afastado da Apae, para queimar documentos da instituição.
Estavam presentes na coletiva, os delegados Gustavo Bertho Zimiani, Ricardo Dias, Gláucio Stocco e Clédson Nascimento, responsável pelo caso, que inicialmente agradeceu à equipe de investigações pelo esforço durante as diligências.
Da esquerda pra direita: Gustavo Bertho Zimiani, Cledson do Nascimento, Ricardo Dias e Gláucio Stocco
A vítima estava desaparecida desde o dia 06/08, quando foi vista pela última vez, as 14h57, saindo da instituição sem o celular e com um envelope em mãos e, em seguida, entra no carro da Apae, uma Spin na cor branca.
Na data do dia 08/08, a equipe da Deic iniciou o as buscas por imagens de câmeras de segurança, no objetivo de traçar a rota do veículo após deixar a sede da Apae.
O caminho capturado pelas imagens foi: avenida Nações Unidas, em seguida, a avenida Nuno de Assis em direção à rodovia Cezário José de Castilho (SP-321), Bauru – Arealva. O veículo foi filmado também por volta das 18h23 na rodovia Comandante João Ribeiro de Barros (SP-294), no sentido Marília. Após, em uma rua perpendicular ao do local do abandono, imagens mostram o veículo passando pela câmera por volta das 18h31 e logo na sequência, estacionando. Dois minutos depois, o motorista atravessa em direção à avenida Elias Miguel Maluf.
No dia 14/08, a equipe de homicídios localizou uma câmera de monitoramento na quadra 2, da rua Maestro Oscar Mendes, no Novo Jardim Pagani, que deu rumo decisivo para a investigação.
As imagens mostram às 15h11 a Spin estacionando, Cláudia saindo do banco do motorista e entrando no banco de trás (na posição onde foi encontrada a maior concentração de sangue humano) e Roberto, saindo do carro no lado do passageiro e assumindo o volante. O carro fica parado cerca de 3 minutos na mesma posição antes de sair, onde, segundo o delegado Clédson, provavelmente ocorreu o disparo e Cláudia teria sido morta.
Outra imagem captada na marginal da Rodovia Cezário José de Castilho (SP-321), mostra a Spin, três minutos após sair de onde os dois trocam de posição no carro, com Roberto seguindo para se desfazer do corpo.
Após a saída do Jardim Pagani, as movimentações do suspeito, registradas entre 16h01 e 16h12, apontam que ele estava na região do bairro Pousada da Esperança. Essa região é a mesma onde a Apae realizava a incineração de papéis, se trata de uma chácara de locação de campos de futebol e que o funcionário responsável pelo descarte, homem de confiança de Roberto, já trabalhou e residiu.
Pela análise, às 18h38, Roberto estava na região do Parque Santa Cândida, próximo da Alameda Três Lagoas, local onde o carro foi abandonado.
Segundo informações de documento fornecido pela Deic, no início das investigações, Roberto se colocava à disposição para compartilhar informações relacionadas ao dia a dia de Cláudia na APAE, e encaminhou agendas, relatórios de ligações do telefone fixo da entidade.
Foram ouvidas pessoas do convívio de Cláudia, como o atual namorado, a filha, o presidente e o motorista da APAE, além de outras pessoas próximas.
Em seu primeiro depoimento, Roberto informou que Cláudia estava solicitando “adiantamentos” de ordem financeira (sem previsão estatutária), alegando que era pra ajudar um parente que havia sido preso e estava devendo.
Disse que essa já seria a quarta ou quinta vez que Cláudia pedia adiantamento de altos valores e que em duas oportunidades ele próprio a acompanhou no bairro Mary Dota onde ela entregava o dinheiro, para um homem. Nas outras duas vezes levou em um shopping e em um posto de gasolina. Disse que uma semana antes do desaparecimento ela pediu R$ 40 mil e “seria a última vez”, mas alegou que não liberou esse valor.
Diante disso, em diligências visando a coleta de material genético da desaparecida, foram apreendidos um notebook e a quantia de R$ 10.000,00 em espécie que havia sido deixada por Cláudia na casa da filha.
Foi solicitado um ofício para APAE para informar datas e valores que teriam sido liberados para a Cláudia. No depoimento, Roberto dizia que “não lembrava com precisão os valores e as datas”, mas que essas informações seriam prestadas.
A responsável pela Coordenadoria financeira da entidade confirma que analisava apenas a viabilidade financeira do caixa, mas a subjetividade da liberação desses “adiantamentos” eram de responsabilidade de Roberto. Na extração de conteúdo do notebook pelo Instituto de Criminalística, foram encontradas planilhas da contabilidade pessoal de Cláudia, com indicativos de possuir inconsistências financeiras, inclusive valores em aberto em relação a Roberto.
A Polícia passou a trabalhar com os indicativos de rombo no caixa da entidade assistencial, má gestão e conflitos de interesse entre o presidente e secretária-executiva. Internamente na DEIC, foi analisado o conteúdo do laudo de extração dos arquivos do notebook em conjunto com o SECCOLD da 1ª DIG e com o Escritório de Inteligência.
Na imagem capturada por uma câmera de segurança no dia 14/08, foi confirmada a presença de Roberto com a Cláudia, no momento em que eles trocam de lugar no veículo, no dia do desaparecimento de Cláudia.
Com a identificação de Roberto nas imagens, passou a ser analisada a movimentação do suspeito na tarde do desaparecimento de Cláudia.
Foi efetuada uma pesquisa junto ao SINARM e identificado que Roberto Franceschetti Filho possui cadastrada em seu nome uma pistola Taurus, calibre 380, registrada sob nº KLY96424.
“Com a identificação de Roberto como sendo a pessoa que acompanha Cláudia na Spin e ter sido a pessoa que, ao contrário do que declarou, estar presente na última imagem que tínhamos da vítima com vida, analisamos sua movimentação na tarde do desaparecimento”, declarou o delegado Clédson.
No fim do dia 14/08, as investigações apontavam Roberto como autor do crime. Foram produzidos relatórios e solicitada a prisão temporária, pelo prazo de 30 dias, além de mandado de busca e apreensão. No dia 15/08, Roberto é preso após comparecer na Deic para pleitear a retirada dos bens da Apae (notebook e celular de Cláudia). Foram efetuadas buscas na residência e apreendido dentro de um cofre, a pistola.
Já preso, em entrevista preliminar, Roberto indica que teria jogado o corpo de Cláudia no local já identificado, ou seja, das queimas de papéis e materiais, as quais condiziam com a geolocalização e movimentação do telefone dele. No fim da tarde ele foi levado pela 1ª vez para cadeia de Pirajuí.
Nesse mesmo dia, a equipe de investigações realizou, ao anoitecer, buscas no local onde foi encontrado um buraco com grande quantidade de cinzas, restos de papéis, latas e outros objetos queimados, confirmando pelo rescaldo e papéis não queimados totalmente que realmente pertenceriam a APAE.
No mesmo dia da prisão de Roberto, foi confirmado que na tarde do crime o funcionário responsável pelo Setor de Frota e Compras da APAE, ‘homem de confiança de Roberto’ estava queimando papéis no local. Ele foi contratado no último dia 01/04/2024 e foi colocado por Roberto em importante função no Setor de Compras e Frota.
O controle de entrada e saída das viaturas da APAE no dia do crime, aponta com único registro esse funcionário saindo por volta de 14h10 com quilometragem do carro no km 143455, havendo uma rasura na hora de retorno, que aparenta ser o horário 14h30 mas com km 143493, ou seja, 38 km que não poderiam ser feitos em 20 minutos.
No dia 16/08, o funcionário foi intimado a prestar depoimento, onde apresentou diversas contradições. Disse ainda que naquela tarde teria se dirigido ao local em companhia de um outro funcionário da APAE, fato que não foi confirmado.
Esse homem confirma em interrogatório que Roberto lhe telefonou por volta das 14h00 perguntando se naquela data queimaria os materiais. Roberto chegou posteriormente conduzindo a Spin, com o corpo e mediante ameaça a ele e familiares ordenou que desse fim no corpo e limpasse o carro. Roberto sai de lá conduzindo a outra viatura da APAE, que o funcionário chegou com os materiais, e volta para Bauru para tentar deixar provas do crime.
O funcionário confessou que é ele e não Roberto que sai dirigindo a Spin, sendo seguido pelo presidente em outro veículo. Ele concordou em mostrar onde jogou os restos mortais incinerados da vítima, pois no sábado, dia 10/08, ali voltou a pedido de Roberto, para mais uma vez se livrar das provas, rastelando e separando os ossos que ficaram no buraco onde os papéis e objetos foram queimados.
Ele indicou para a equipe a região de mata a cerca de 20 metros do buraco e ali, já de noite, são apreendidos pela perícia pedaços que aparentam ser ossos humanos queimados.
No dia 20/08, as equipes voltaram ao local, onde foi possível encontrar na mesma região uma armação de óculos que pertencia a vítima conforme imagens extraídas de um processo judicial na qual a mesma testemunhou e outras fotos de rede social, além de outros vestígios (ossos, que são confirmados pelo IML, como sendo humanos).
No dia 22/08, foram realizadas diligências na APAE visando perícia complementar em documentos de rede realizada pelo Setor de Informática do Instituto de Criminalística ao laudo pericial de análises do notebook apreendido e que era usado pela vítima Cláudia Lobo. Também foram apreendidos objetos e documentos para prosseguimento da investigação financeira.